










Palavras-chave: memória, identidade, reuso, humor, brasilidade, assemblagem, respeito, tecnologia, honestidade, digital, garimpo, reciclagem, trabalho coletivo, improviso, landscape design, customização e multicultural.
Evento: BGourmet + Casa Cor 2010, São Paulo/ SP Brasil (http://www.bgourmet-sp.com.br)
Fotos: Fran Parente
Nosso espaço parte do conceito "Casa Feliz" e busca refletir sobre o futuro do design frente às novas tendências de comportamento do homem na atualidade. Quando 3 professores se unem em um processo de co-working criativo, o objetivo principal é entender e questionar o papel do design hoje e em como ele pode nos fazer refletir sobre o mundo que vivemos. Eventos de grande porte como a Casa Cor geram toneladas de resíduos, além de um consumo incalculável de recursos humano, financeiro e material. Partindo dessa observação, quando fomos convidados para projetar um ambiente no BGourmet, priorizamos atitudes projetuais que minimizassem o impacto ambiental, instigando a reflexão dos participantes do evento sobre a necessidade de atitudes mais sustentáveis.
A partir destes parâmetros de projeto, buscamos imprimir identidade ao espaço por meio de uma cartela de cores, uso de materiais, formas e luz, que resultassem num ambiente contemporâneo carregado de memória. Para nós a poesia do espaço constrói-se a partir de nossas histórias pessoais e daquilo que realmente acreditamos, contados a partir de objetos que nos remetam às lembranças da família, da infância e daqueles que amamos. Celebramos aqui a estética do improviso, do informal e da sinceridade.
Nossa cozinha é um espaço funcional, com eventos e cursos diários de gastronomia. Todo ambiente funciona como uma cozinha real, com fogões, geladeiras, pias e toda a infra-estrutura necessárias. Durante 2 meses de intensa pesquisa, coletamos móveis, objetos e materiais de construção abandonados em caçambas pela cidade, ou comprados a preços super acessíveis em depósitos e lojas de móveis usados, na região do minhocão ou no bazar do Lar Escola São Francisco, por exemplo. Tal conceito pode ser visualizado imediatamente na nossa porta de entrada, uma assemblagem de portas esquecidas nesses locais.
Todo o piso é composto por réguas de pallet, doados pelo CEAGESP, diagramados numa paginação clássica de escama de peixe. A grande bancada da cozinha, que dá suporte aos chefs convidados e aos seus 25 alunos, é uma complexa colagem de 8 tampos de granito abandonados em depósitos, que aqui ganha status de ilha com um desenho que tira partido da irregularidade das peças. O resultado é puro ready-made que remete a imagem de uma centopéia gigante com pernas de
cavaletes industriais que parece querer caminhar pelo espaço. Todas as instalações hidráulicas e elétricas ficam aparentes e diversas inserções de vasos de cerâmica com temperos, pimenteiras, utensílios de cozinha e lixeira para resíduos orgânicos compõem a peça.
Ao fundo temos um garimpo de móveis antigos, que foram re-utilizados como prateleiras que abrigam equipamentos como o forno, fogão, microondas e geladeiras, e que também dão suporte à memória afetiva contada a partir de objetos de casa, remetendo-nos à cozinha de nossos pais e avós. O lounge da nossa cozinha, onde os alunos aguardarão pela aula de gastronomia, foi transformado numa grande galeria de artes visuais, com curadoria do artista e fotógrafo Felipe Morozini e com
apoio do acervo da Galeria Mezanino. Nesta sala de estar multicultural, encontramos também obras pessoais que emprestamos das nossas casas e fotografias da nossa infância. O grande sofá modular é composto por um patchwork de tecidos africanos que ganhamos de um amigo que lá reside, mesclados com mobiliários de designers brasileiros contemporâneos, peças vintage e mobiliário de papelão reciclável.
Nós da WHYDESIGN acreditamos no potencial do novo design brasileiro e selecionamos peças de jovens designers para engrandecer nosso projeto, como o protótipo original do Wave Sofa de Rodrigo Almeida, localizado ao fundo do lounge, além de Bruno Jahara, Rodrigo Reis, Camila Fix e Carol Gay, por exemplo.
Para nós, uma "Casa Feliz" é aquela que acredita em adoção de cachorros vira-lata, uso de bicicleta como meio de transporte, reciclagem de resíduos, muitas plantas, cores, texturas e sobreposições do que somos e sonhamos. Sejam bem vindos a refletir sobre o design hoje e por favor sirvam-se de algumas referências do ciberspaço que tanto nos inspiram nas Étagères espalhadas pelo ambiente. A casa é sua: Tim-Tim!